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Planejamento de Carteira


Planejamento de Carteira

Muita gente sai até correndo quando se fala em planejar, isso porque geralmente planejar implica em ficar divagando sobre prós e contras antes mesmo de colocar a mão na massa. Além disso, se você planejar de forma correta as coisas, na hora de fazer, praticamente nenhuma decisão precisará ser tomada de forma espontânea e consequentemente vai embora toda aquela adrenalina de resolver de bate pronto uma questão. Ou seja, seu trabalho de execução, após um bom planejamento, se torna mecânico e enfadonho.

Planejar dá muito trabalho. Você precisa estudar as questões ligadas ao que se propõem a fazer e junto com isso tentar prever e resolver tudo aquilo que pode dar de errado no futuro. E pra mim a pior coisa de um planejamento é que, supostamente você já sabe o final, mas não pode pular para lá direto. Você vai ter que esperar o tempo passar, passo a passo, até a meta.

Ao fazer um planejamento da sua carteira de ativos, muitos são os pontos a serem analisados e eu poderia ficar conversando por horas e horas sobre quais são eles, desde o quanto você gosta de carros até quanto vale para você a assinatura do NetFlix. Tudo isso vai definir seu planos e metas e consequentemente interferir no seu planejamento financeiro e de carteira. Mas tentarei ser muito mais objetivo neste texto e abordar os aspectos que considero principais.

Quais riscos posso correr?

A medida de risco é uma arte. Apesar de podermos tratar o risco com ferramentas matemáticas, como desvio padrão, probabilidade e médias históricas, a verdade é que a próxima crise pode acontecer no dia em que você ia tirar o seu dinheiro para comprar uma casa ou sair para viajar. E aí meu amigo, você geralmente vai ter que esperar mais uns quatro anos para voltar aos preços que vigoravam antes desse fatídico dia. E isso sem corrigir a inflação.

Por esse motivo, seu capital não pode estar totalmente exposto a certos riscos. Sua renda não pode ser proveniente de apenas um mercado e você tem que, vez ou outra, gastar dinheiro fazendo seguros sobre riscos que você não pode correr!

Apesar de só você poder avaliar quais riscos você pode correr, eu posso ajudar você apontando aspectos importantes que você deveria ponderar.

Sua idade

Quantos anos você tem? Pode parecer uma pergunta indiscreta, mas para quem não tem noção de risco financeiro de certos ativos e da renda variável, essa pergunta é fundamental. Quando se é mais novo, caso você perca todo seu dinheiro, você ainda tem uma vida inteira pela frente para recuperar suas economias e não fazer besteira de novo.

Não quer dizer que gente nova quer perder dinheiro, apenas que você tem mais tempo para esperar recuperações após crises e com isso se preocupar menos com as oscilações que acontecem, inevitavelmente.  

Já quando você é mais velho, retornar ao mercado de trabalho ou mesmo recuperar grandes perdas é um desafio quase que perdido, pois o tempo está contando contra. Então você deve ser mais conservador e manter seu capital mais seguro.

Uma regra simples, mas que ajuda a definir a composição de uma carteira é aplicar um percentual igual a sua idade em renda-fixa e a medida que o tempo for passando ir ajustando os aportes. É fácil de perceber que a medida que sua idade for avançando, cada vez mais capital estará aportando em renda fixa e cada vez menos em renda variável.

Isso não quer dizer que não se possa aplicar em renda variável de forma "segura", nem que a renda fixa seja isenta de risco. Significa apenas que para um pessoa que não quer aprender sobre Hedge, operações estruturadas e tantas outras formas de proteção de capital, esse é o jeito mais fácil. Lembre-se que isento de risco não existe; investimentos sem risco não existe. ETs sempre poderão pousar na Terra e abduzir os bancos e todo o sistema eletrônico do mundo e amanhã você só terá os cinco reais da carteira.

Sua família

Você tem filhos? Você participa de forma significativa na renda da sua casa? Quanto mais pessoas dependem diretamente de você, menos dinheiro você pode perder. O dinheiro que você perde, nesse caso, pode causar um impacto substancial a sua volta e tornar a vida das pessoas que você gosta muito mais complicadas.  

É importante pensar que se você é o único responsável pela renda de outras pessoas, talvez o seu maior investimento seja parar por aqui, por enquanto, e investir seu tempo e dinheiro para que aqueles que dependem de você se tornem independentes financeiramente, através de educação e instrução profissional. 

Agora, se você é o único passarinho no ninho, sua exposição ao risco pode ser maior e você pode tentar métodos mais ousados para obter ganhos inesquecíveis... E perdas imemoriáveis. Veja bem, ninguém pode perder tudo, pequeno Padawan, isso é ruim de qualquer jeito, só é um pouco menos ruim para você, então se proteja também, mas com menos armaduras.

Seu conhecimento

Você é corretor de imóveis. Está vendo que o mercado está depreciado e que os imóveis não estão vendendo e os poucos que estão sendo vendidos estão com um preço cada vez mais baixo. Aí você vende todas as suas cuecas e compra um imóvel que está uma pechincha. Pronto o governo vem e libera crédito a juros baixos, o mercado aquece de novo, o imóvel que você comprou estava valendo o dobro, mas a prefeitura decidiu que vai fazer um viaduto naquele lugar e vai te indenizar pela metade do preço que você pagou. Pronto, você agora anda com meias cuecas!

O quanto você sabe de um mercado faz muita diferença. Não vai lhe blindar dos riscos e nem quer dizer que você não vai perder dinheiro depois de 10 anos de ganhos, mas significa que seu tato é melhor e você provavelmente sabe antever certas circunstâncias e com isso se proteger antes do mundo cair ou subir no avião antes de decolar. Porém nunca jogue todas as fichas em uma tacada! Resumindo, não subestime seu conhecimento, mas não duvide do Murph.


Quais ativos investir?

Os ativos nós quais você vai escolher investir devem seguir algumas linhas pré-definidas, sendo que os detalhes ficam a gosto do cliente. Basicamente podemos investir em duas modalidades de ativos financeiros, que irão se separar entre renda fixa e renda variável. Porém, dentro de cada uma dessas duas modalidades existe um número gigante de opções que farão com que você sempre tenha uma opção para escolher a que mais te agrada. 

Eu irei listar os quatro mercados que acho interessante que todos estejam com pelo menos a pontinha do pé, de forma a diversificar seu patrimônio e se proteger de crises e problemas financeiros. Mas o céu é o limite e quanto mais dinheiro você possuir, mais você deverá extrapolar essas linhas. Porém irei começar falando de uma forma de segurança no caos.

Moeda forte

Comprar uma moeda forte não é bem um investimento, é mais uma espécie de seguro mesmo. Normalmente quando acontece um crise financeira de maior escala, as pessoas migram seus investimentos para o que elas consideram mais seguro. E entre as coisas consideradas seguras no mundo estão as moedas de grandes potencias econômicas, principalmente os EUA. Logo, comprar moeda forte é garantir possuir um dinheiro que será válido mesmo em situações de caos. Se quiser ter certeza de verdade, compre um cofre de ouro.

Ações no exterior

A economia dos países emergentes é mais frágil no geral. Elas sentem de forma mais significativa os impactos de decisões a redor do globo e com isso estão mais expostas a oscilações de grande intensidade. Isso é um ótimo terreno para a especulação, mas não tem graça nenhuma quando estamos falando do patrimônio de uma vida variando 50% de um ano para o outro. 

Grandes empresas estrangeiras também podem quebrar e sofrer com uma crise, mas geralmente sua estrutura as torna mais capazes de superar esses eventos. Por isso ter parte do seu capital investido em ativos no exterior, em grandes multinacionais, é uma forma de manter seus dividendos sendo pagos, mesmo nas situações de maior incerteza.

Ações

As ações do país representam o setor produtivo como um todo e o setor produtivo é o que produz riqueza em última instancia. Lógico que existem empresas que não estão ligadas a bolsa de valores, mas as maiores geralmente estão. Talvez essa seja a coisa mais interessante do mercado de ações: Você, que não entende nada de petróleo, pode ser um dos donos da Petrobras. Você pode não saber nada sobre telefonia, mas pode ser acionista da Vivo e com os lucros da empresa sustentar sua família. Se pensarmos dessa maneira, vemos que o mercado de ações é um forma de democratizar o crédito para o setor produtivo e também a participação de pessoas normais no mundo das grandes negócios.

Imóveis

Todo mundo precisa morar. Você até pode ser cigano e mudar de lugar com frequência, mas enquanto estiver em algum lugar, precisa morar. Isso faz com que o setor imobiliário seja uma fatia importante do mundo. E apesar de muitas pessoas confundirem, investir em imóveis é um ativo de renda variável. Não importa quanto você ganha de aluguel nem nada disso. O valor do seu imóvel varia com o preço que as pessoas querem pagar nele. O valor do aluguel que você cobra depende de como anda a economia. 
Ninguém nunca compra um imóvel com garantia que ele será alugado a 0,5% do seu valor de compra pelo resto da vida. Logo imóvel é renda variável.

Renda fixa

Eu decidi colocar todos os ativos de renda fixa no mesmo saco. Até então tinha falado apenas de ativos de renda variável.  A renda fixa vai sempre funcionar da mesma forma. Pré ou pós fixada; com ou sem cotas periódicas; isenta ou não de imposto. São os retornos mais baixos do mercado, mas são a opção considerada de menor risco. Então é isso, escolha uma legal e aprenda sobre ela.

Quanto investir em cada um?

Eu sempre acho mais fácil dividir tudo em partes iguais. Mas você pode levar em conta aquela continha que considera sua idade e com isso definir o percentual de cada um dos ativos na sua carteira. É difícil definir um percentual para outra pessoa, por isso ponderei todos os pontos que levo em conta, para que você possa tentar se achar sozinho. Se não conseguir chegar a uma conclusão, faça como a nossa carteira recomendada e tenha 25% nós quatro ativos: Tesouro Direto, S&P500, IBOV, FII. Com o passar do tempo você aprende e se ajusta melhor ao seu perfil.

E é importante lembrar que ter reservas e moedas fortes não é um investimento, apenas uma segurança e, portanto, deve ser definido um valor fixo de posse e pronto! Nada de aportes mensais ou recomposição na carteira. Você junta, deixa guardado e espera não precisar. 

No melhor dos casos use em suas viagens e depois recomponha, mantendo um preço médio bacana!

Escreva!

Tivemos todo esse trabalho até aqui para decidir quanto e em o que colocar nosso dinheiro. No fim das contas eu falei, falei e falei e não resolvi sua vida! Talvez você tivesse pensado que todo o plano estaria traçado e bastaria copiar. De certa forma isso foi feito aqui, esse texto tem como objetivo que você seja capaz de fazer algo parecido por conta própria.

Decidido seu plano, escreva-o detalhando o percentual de cada ativo, quando e quanto serão os aportes financeiros e como você irá balancear sua carteira (Anualmente, mensalmente, semestralmente?). Não deixe de escrever suas decisões, fazer isso faz com que você reflita se aquilo faz sentido. Além disso evita que você se engane inventando uma regra que não existia bem no meio do caminho.

Não deixe de escrever!

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